02/08/2024 15:20:13
São 25 anos de trabalho e dedicação da professora e artista Silviane Lopes, que fio por fio ensinou gerações de tecelãs, fazendo do ateliê um lugar de encontro e criatividade que atraiu até artistas de longe. A exposição em comemoração à data do Ateliê de Tecelagem do Centro Cultural Feso Pro Arte permanece ao longo deste mês, até 31 de agosto, em diversos ambientes do Centro Cultural.
A abertura da Exposição aconteceu no dia 12 de julho, com uma retrospectiva e alguns dos trabalhos multimídia, em parceria com tecelões, bordadeiras, artistas de teatro, produtores de vídeo, escritoras. A cerimônia de abertura reuniu os principais envolvidos da iniciativa.
“Estamos fortalecendo a formação e as artes visuais no Centro Cultural, e a Silviane não poderia faltar como nossa parceira nessa revolução. Agradecemos imensamente a todos os estudantes, pois essa trajetória só existe graças a vocês. Agradecemos por confiarem em nós na formação de vocês, na integração e neste espaço tão especial que é o Ateliê. Percebo que ali não há apenas trabalhos com expressão artística; vocês também tecem amor, vida, carinho, criatividade e a alegria de celebrarmos os 25 anos!” pronunciou a diretora do Centro Cultural Feso Pro Arte, Edenise Antas, na abertura da cerimônia.
Silviane Lopes, professora de tecelagem no Centro Cultural Feso Pro Arte, falou sobre a evolução do espaço desde a sua origem como a Universidade da Terceira Idade (Univerti). Ela também destacou o projeto "Memorare" de 2022, que visa resgatar a ancestralidade feminina, incluindo uma homenagem à Pajé Negra Pataxó, assassinada recentemente. “O projeto busca manter viva a memória e a cultura dos povos originários, utilizando um tear antigo como símbolo de conexão e mistura cultural. Também foram convidadas bordadeiras para colaborar, com cada uma representando elementos e histórias dos povos indígenas”, contou Silviane.
Logo no hall de entrada o visitante será envolvido pelo Portal Memorare, uma obra apresentada em 2022, que ilustra o convite do evento: uma enorme urdidura em tons de pele, montada num tear ancestral, reúne memórias escritas e bordadas por muitas mulheres, numa diversidade que inclui uma pajé pataxó, vítima de violência, que deixou um pouco de sua história e a de tantas outras mulheres indígenas. A homenagem à Pajé Nega Tupinambá Pataxó Hã Hã Hãe batizou a nova versão do Portal de "Corpo da Terra".
Olivia Von Der Weid, professora de Antropologia na Universidade Federal Fluminense, falou sobre sua pesquisa e colaboração no projeto "Memorare". Sua pesquisa sobre ancestralidade feminina surgiu após a morte de sua avó, em 2020. A busca por um tear antigo da avó a levou a encontrar Silviane Lopes, uma artista tecelã, e juntas com a atriz Erika Hettel, iniciaram o projeto. “O ‘Memorare’ começou com a escrita de cartas para ancestrais e ganhou apoio por questionar a inclusão de vozes femininas na história. Após o assassinato da minha avó, a Pajé Negra Pataxó, o projeto evoluiu para "Corpo da Terra", honrando sua memória e destacando seu papel significativo na comunidade”, contou.
Na galeria principal, a retrospectiva ilustra a gama de técnicas e desafios propostos pela professora Silviane Lopes, que vão de povos originários das Américas a complexas técnicas já quase esquecidas do interior de Minas ou do outro lado do mundo. Mesmo durante a pandemia, a professora deu aulas virtuais e criou um livro de Memória Têxtil. Em várias ocasiões, as alunas aprenderam novas técnicas com artistas têxteis convidados, como Alexandre Heberte e Maria Cecilia de Paula.
Na galeria 2, estão expostos os 12 trabalhos tecidos para ilustração do livro virtual "Contos e Fios", da escritora Ana Maria de Andrade, que recriou histórias populares e mitológicas envolvendo a tecelagem, do qual foram feitas algumas leituras dramatizadas pelas próprias tecelãs.
A pesquisa e idealização do Portal Memorare são da antropóloga e professora da UFF Olívia Von der Weid, em parceria com a professora Silviane Lopes e a atriz Erika Rettl, do Grupo Teatral Moitará. As bordadeiras que enriqueceram a trama de fios vermelhos, foram convidadas por Marisa Silva.
Por Giovana Campos